Dos registros recuperados por Aland Soren das ruínas da Academia nas ruínas da Primeira Veston.
Há poucos registros sobre as Terras Flutuantes antes da Grande Tragédia, pois muito se perdeu. Eis aqui o que se sabe. O que descobri se baseia em histórias desencontradas que sobreviveram à catástrofe. Essa é a história contada de pai para filho, de trovador para trovador, e escrita em registros pouco confiáveis das pequenas cidades que sobraram. Fiz um grande esforço para reunir os relatos mais confiáveis e encontrar a história como ela deve ter sido.
Ninguém sabe ao certo há quanto tempo ou como isso aconteceu, mas pequenas vilas e grandes cidades começaram a se formar antes que a ideia ou as ferramentas para a escrita de sua história aparecessem, e seu conhecimento era passado através de lendas cantadas pelos contadores de histórias. Entre o que se conhece das civilizações de outrora, há uma boa parte de mitos, outra de fatos. Há casos documentados, mas há muito mais que precisa ser explicado.
A descoberta da Magia foi certamente o fato mais significativo, que transformou a história das pequenas ocupações. Foi o que impulsionou o seu desenvolvimento. Embora pouco se possa comprovar, há relatos que muitos tomam como certeza: foi na ilha de Audovall, onde hoje estão os Escombros, que a Magia foi descoberta. A lenda da religião do Templo de Honnar, predominante em todo o mundo, é aceita por seus fiéis como verdade. Ela diz o seguinte:
“Conta-se que o jovem Honnar de Audovall encontrou uma pedra e encantou-se com a forma como ela brilhava, com uma cor que nunca havia visto antes. Em pouco tempo, descobriu que apenas seus olhos enxergavam sua cor e apenas seus ouvidos escutavam sua melodia. Durante dias, Honnar ouviu a pedra exortando-o a procurar a Fonte da Luz e da Música. Ignorando os avisos de sua família, pôs-se em viagem. A pedra levou-o a um grande Mestre que era, na verdade, o próprio Uviananth em disfarce. O Mestre chamou-a coração-de-pedra, e ensinou a ele todos os seus segredos. Quando viu que Honnar estava pronto, o Mestre enviou-o de volta ao mundo para transmitir seus ensinamentos.”
O Templo também conta a respeito do seu primeiro encontro com os elfos alados: “O Mestre enviou Honnar para as florestas, para aprender sobre elas. Lá chegando, ficou maravilhado com a beleza das flores e o canto dos pássaros. Em sua primeira noite sob as árvores, foi acordado por dois homens, de belos rostos e olhares severos; suas roupas eram leves, e tinham duas asas como as de pássaros em suas costas, e portavam lanças intrincadas feitas de vidro. Disseram eles: 'Nós somos avariel, os elfos-alados da floresta de Nymm. Quem é você que invade o domínio sem permissão?', e Honnar respondeu 'Quem me envia é o grande Mestre, que é Uviananth, e em seu nome eu venho'. E os elfos, vendo que Honnar falava a verdade e tinha pureza em seu coração, carregaram-no até sua morada, e celebraram sua presença, e se declararam seus discípulos.“
Os elfos contestam veementemente a história: alegam que estavam nas Terras Flutuantes antes dos humanos chegarem, que nunca viveram em uma cidade chamada Nymm, e que certamente não são seguidores de Honnar. Em todo caso, até onde se sabe, humanos e elfos sempre estiveram em contato.
Sabe-se também que os anões-cinzentos foram instrumentais na descoberta dos corações-de-pedra pelos humanos e na sua extração, mas não há registros dos primeiros contatos entre os dois povos. O Templo também tem um mito sobre isso: “Honnar perguntou: 'Onde, Mestre, se encontram os corações-de-pedra, pois só através deles o homem pode conhecer a Sua glória?' E o Mestre apontou para uma rocha e disse: 'cave ali'. E Honnar cavou, mas nada encontrou; mas o Mestre disse 'continue cavando', e Honnar cavou por um ano, mas nada encontrou; e o Mestre disse 'continue cavando', e Honnar cavou por mais dez anos, e encontrou uma caverna, e dela saíram criaturas pequenas, pálidas, de rostos lisos e olhos fundos, que disseram: 'Nós somos os sluagh, os anões-cinzentos de Tamridh, e você nos trouxe à luz!', e lhe agradeceram por libertá-los da terra, e declararam uma dívida de gratidão que duraria até o fim dos tempos.”
Desnecessário dizer, os anões também contestam essa versão. Diferente dos elfos, no entanto, sabe-se que existiu uma cidade dos anões-cinzentos com o nome de Tamridh.
Esta parte está bem documentada nos pergaminhos do Templo de Honnar. Talvez não seja a melhor representação da verdade, mas é a única informação que temos sobre os primeiro dias da Magia. A descoberta dos corações-de-pedra revelou um novo mundo para aqueles que aprenderam a dominá-las. Os pequenos truques criados pelos primeiros estudiosos evoluíram e descortinaram-se as possibilidades: as pedras são a fonte e o canal da Magia, e sua energia, o Mana, pode ser usada para transformar vontade em realidade: crescer alimentos se tornou mais fácil, bem como tratar os enfermos ou explorar o mundo – ou alimentar a ambição dos vivos.
Os Sábios do Templo dirigiram seu olhar mágico para o mundo, e descobriram que as Ilhas, onde se sustenta a vida, flutuavam sobre grandes rios de energia mágica, que chamaram Linhas de Mana. Compreenderam que gigantescos veios de coração-de-pedra nas entranhas das rochas as mantém em suas posições – e não tardou para que mentes criativas usassem seu poder para viajar sobre as Linhas.
Antes de sua descoberta e da criação das embarcações que trafegam sobre elas, apenas os mais destemidos se aventuravam a viajar de uma ilha a outra – sobre o lombo de montarias capazes de voar a longa distância e carregar o seu peso. Normalmente, era uma viagem sem volta, pois as Ilhas são distantes e a viagem muito arriscada. O comércio entre as cidades era virtualmente nulo.
As primeiras embarcações eram pequenas, frágeis e instáveis, mas navios maiores foram criados. Em pouco tempo, iniciou-se a era das grandes navegações. Os navegadores mais famosos são considerados heróis, e suas aventuras são cantadas até os dias de hoje em todo o mundo – entre eles, Turzel, o primeiro a desbravar a Linha que recebe o seu nome, é o mais celebrado. As viagens entre as ilhas, antes privilégio dos elfos alados ou feita de maneira precária sobre animais voadores, tornou-se comum.
Os navegadores mapearam as suas viagens, mas o mundo é vasto demais, e apenas a Divindade sabe o que se encontra além. Descobriu-se que, além das três Grandes Ilhas – Estil, Lugria e Veston – e seus arquipélagos, milhares de ilhas menores, um número ainda maior de ilhotas e incontáveis rochedos distribuem-se por todas as Linhas de Mana. Algumas delas, grandes o suficiente para suportarem pequenas nações, foram imediatamente colonizadas; outras tão diminutas que mal abrigam uma vila. Todo o esforço feito durante as navegações não foi o suficiente para catalogar cada um desses locais, e cada nova descoberta vem cheia de mistérios.
As Três Grandes Ilhas nessa época condensavam – como ainda o fazem – a maior parte da população de Uviananth, bem como os principais poderes políticos. Os governos envolviam-se em conflitos pela supremacia nas rotas comerciais, na extração de corações-de-pedra e outros minérios e no desenvolvimento da Magia. De todos os povos, apenas Elarune, a maior floresta élfica conhecida e vizinha da capital de Veston, recusava-se a entrar nas mesquinhas disputas.
O reino de Audovall situava-se em uma pequena ilha entre Estil e Lugria. Pioneiro no estudo e na exploração do minério, tornou-se a maior entre as nações: a mais rica, bonita e instruída. Com a riqueza abundante, universidades foram criadas, houve incentivo às artes e à tecnologia baseada em Magia, aumento na produção de alimentos, no comércio, na estrutura das cidades e no bem-estar geral da população. O período áureo de Audovall registra a criação do Templo de Honnar e da Academia (sobre os quais falarei mais adiante).
Audovall montou, também, a estrutura militar mais poderosa: sua Magia permitiu a criação de máquinas de guerra e navios capazes de levar exércitos inteiros até outras ilhas e conquistá-las. O progresso foi alcançado às custas das riquezas dos povos subjugados. A visão dos navios no horizonte era descrita com pânico pelos invadidos – pouco havia o que podiam fazer exceto render-se ou morrer lutando. Em poucos anos, dominou as vizinhas Estil e Lugria, e também boa parte de Veston.
O domínio era também cultural: os religiosos do reino, seguidores de Honnar, viram a expansão militar como a oportunidade de espalhar sua crença, e foram capazes de cativar um grande número de fiéis. A pequena igreja deu origem ao Templo de Honnar, e mesmo após o Esfacelamento de Audovall e a Queda do Império, a religião ainda persiste como a crença dominante até os dias de hoje.
Com isso, Audovall transformou-se no Primeiro Império – os pequenos exércitos de resistência foram rapidamente derrotados, pois não podiam conter seu poderio – com uma notável exceção.